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Saúde e Bem-estar

Por: Priscila Franze do Nascimento, em 4/7/2021

A ciência por trás da Meditação

Conheça os benefícios da meditação.

  Quando você pensa em meditação, qual a primeira ideia que vem à sua cabeça? Assunto da moda, prática de relaxamento, descanso mental, equilíbrio corpo X mente?
Nesse artigo você irá descobrir que as pesquisas em Neurociência mostram que os benefícios dessa prática vão muito além disso.

A Meditação pode ser definida como:

“Prática que engloba um conjunto de técnicas que buscam treinar a focalização da atenção” (Shapiro, 1981).

“Processo auto-regulatório da atenção, em que através da prática é desenvolvido o controle dos processos atencionais (Davidson & Goleman, 1977; Goleman & Schwartz, 1976).

Apesar de se ter amplamente popularizado nos últimos tempos, sua origem não é recente, desde 1936 discute-se o potencial da meditação (Smith, 1975). A meditação é uma prática muito antiga, com origem nas tradições orientais, estando especialmente relacionada às filosofias do yoga e do budismo (Levine, 2000).

A abordagem possui ênfases diferentes considerando os valores e culturas regionais, enquanto no Oriente é associada a busca espiritual, no Ocidente tem sido foco de pesquisas para práticas autorregulatórias do corpo e da mente.

Os tipos mais comuns são:

Mindfulness (atenção plena): descrito como uma prática em que há uma percepção dos estímulos, como pensamentos, sentimentos e/ou sensações, concentradas no momento presente (aqui e agora).

Técnicas concentrativas: restrição da atenção a um único objeto, interno ou externo, ignora-se qualquer estímulo do ambiente, focalizando uma atividade mental ou sensorial específica, por exemplo, a repetição de um som, uma imagem ou a respiração.

Independentemente do tipo escolhido, a meditação é considerada um estado de consciência particular, que não é a vigília, o sono ou sonho, que proporciona redução do gasto de energia, diminuição da frequência cardíaca e mudança na atividade Neuroelétrica (identificadas por EEG) que geram sensação de bem-estar e maior conforto cognitivo.

Diversas pesquisas em neurociência têm apresentado os resultados da prática da meditação, com alterações psicofisiológicas e neurofisiológicas com mudanças no sistema nervoso central e autônomo (Aftanas & Golocheikine, 2001; Danucalov & Simões, 2006).

O caso Sara Lazar

A Neurocientista Sara Lazar, do hospital geral de Massachussets e da escola de medicina da Universidade Harvard, foi uma das primeiras cientistas a aceitar as subjetivas reivindicações dos benefícios da meditação e atenção plena e testá-los cientificamente. A motivação para sua pesquisa veio de uma experiência pessoal. Após sofrer uma lesão durante um treino preparativo para uma maratona, Sara teve recomendação médica para realizar fisioterapia e Yoga visando maior tranquilidade e redução de estresse para poder competir.

Durante essa experiência, Sara começou a perceber que as sessões a tornaram mais calma, compassiva, de coração aberto e com maior habilidade para lidar com situações difíceis. Decidiu então investigar cientificamente e avaliar os impactos da prática meditativa.

Para isso, elaborou um estudo científico, como sua pesquisa de pós-doutorado, com o objetivo de comparar meditadores de longa data X grupo controle (não meditadores), para analisar as diferenças entre as estruturas cerebrais desses grupos, através de avaliação com uso de aparelho de tomografia.

Os resultados como os Meditadores apresentaram:

- Aumento de massa cinzenta na região da ínsula (emoções e sentimentos) e regiões córtex auditivas (atenção plena).
- Aumento da massa cinzenta no córtex pré frontal (memória de trabalho e tomada de decisões).
- Meditadores com mais de 50 anos não apresentavam o típico encolhimento do córtex (redução de volume estrutural associada a dificuldade de entender e lembrar das coisas, comuns com avanço da idade) e tinham massa cinzenta com volume compatível a um adulto de 25 anos.

A contra prova - nova pesquisa

Para avaliar se resultados semelhantes poderiam ser obtidos em pessoas sem experiência em meditação, Sara realizou um experimento de contraprova com um programa de oito semanas de iniciação em meditação em atenção plena com foco em redução de estresse. Os resultados desse estudo foram:

- Aumento no giro cingulado posterior (relacionado as lembranças e autorregulação)
- Aumento do hipocampo da esquerda (aprendizado, cognição, memória, regulação emocional)
- Aumento da junção temporo-parietal (tomada de decisões, empatia e compaixão)
- Aumento da ponte (produção de neurotransmissores reguladores)
- Redução da amígdala (redução da ansiedade, medo e estresse)

Segundo a pesquisadora Elisa Kozasa, do Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein, estudos com base em ressonância magnética demonstram que a meditação aumenta a eficiência do cérebro; pessoas que meditam recrutam menos áreas cerebrais para executar as mesmas tarefas em testes de atenção quando comparadas àquelas que não a fazem. “É como se as pessoas que meditassem regularmente tivessem um cérebro mais eficiente para desempenhar estas tarefas” (Kozasa, 2014).
Além das pesquisas citadas, estudos de inúmeros cientistas, nacionais e internacionais, apontam que os principais benefícios da meditação são:

- Diminuição do estresse e ansiedade;
- Maior longevidade;
- Regulação emocional;
- Combate à depressão e doenças psicossomáticas;
- Aumento de memória;
- Atenção plena;
- Facilitar a aprendizagem;
- Aumento da empatia e compaixão;
- Maior qualidade na tomada de decisão;
- Sensação de bem-estar e relaxamento;
- Alteração do estado simpático (alerta/estresse) para o parassimpático (calma/relaxamento).

Vamos praticar?

Com tantos benefícios, a prática da meditação tem sido cada vez mais usual em ambientes diversos, com aplicabilidade nas áreas da educação, corporativas, clínicas e terapêuticas.
Se você se animou com esse artigo, vamos finalizá-lo destacando uma excelente notícia:
Estudos sugerem que resultados possam ser obtidos após oito semanas com uma prática diária de 40 minutos.

A meditação é como um exercício, quanto maior for sua dedicação em praticá-la, melhores serão os resultados obtidos.

Referências:

Aftanas, L. I., & Golocheikine, S. A. (2001). Human anterior and frontal midline theta and lower alpha reflect emotionally positive state and internalized attention: High-resolution EEG investigation of meditation. Neuroscience Letters, 310, 57-60.

Davidson, R. J., Goleman, D. J., & Schwartz, G. E. (1976). Attentional and affective concomitants of meditation: A cross-sectional study. Journal of Abnormal Psychology, 85(2), 235-238.

Levine, M. (2000). The positive psychology of buddhism and yoga: Paths to a mature happiness. New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates.

Shapiro, D. (1981). Meditation: Clinical and health-related applications. The Western Journal of Medicine, 134(2), 141-142.

Smith, J. C. (1975). Meditation as psychotherapy: A review of the literature. Psychological Bulletin, 82(4), 558-564.

https://cienciahoje.org.br/artigo/a-ciencia-da-meditacao/ Disponível em 28/03/21

Priscila Franze do Nascimento: Analista de Educação Corporativa, Pós-graduada em Psicologia Organizacional, Gestão Estratégica de Pessoas e Pós-Graduanda em Neurociência e Psicologia Aplicada pela Universidade Mackenzie.